Capela do Santíssimo Coração de Jesus e Orfanato
(Cabula, Capela extinta)
Segundo Domingos J.A. Rebello, em sua Corographia, ou Abreviada Historia Geographica do Imperio do Brasil (1829), a Capela do SS. Coração de Jesus foi edificada em 8 de setembro de 1820 pelo padre Francisco Gomes de Souza, que nela iniciou o estabelecimento para o colégio de meninas órfãs. Situava-se acima da ladeira do Cabula, no Resgate.
Em 21 de março de 1825, Dom Pedro I mandou a Secretaria de Estado dos Negócios do Império analisar o requerimento do padre Francisco Gomes de Souza, que pedia licença para erigir no lugar Campestre do Cabula (Praça do Resgate) uma Casa Pia de educação para "meninas orfãs, livres, e oriundas da gente de côr parda ou preta da Provincia da Bahia".
Os parágrafos acima referem-se às raízes históricas do Instituto Sagrado Coração de Jesus, atualmente funcionando em Nazaré. O Colégio foi oficialmente estabelecido em 2 de fevereiro de 1827, segundo o site do Instituto, que indica o local de fundação na atual Rua São José de Cima, no Barbalho. Algumas evidências, entretanto, indicam que o Colégio pode ter sido transferido para o Barbalho, em uma época posterior e, depois, transferido para Nazaré.
As instalações da Capela do SS. Coração de Jesus abrigava o orfanato e colégio conhecido, na época, como Casa Pia das Órfãs do Coração de Jesus.
Por volta de 1847, o fundador Francisco Gomes de Souza faleceu, aos 77 anos, e a Casa Pia abrigava 37 órfãs. O patrimônio da instituição, incluindo a Capela do SS. Coração de Jesus, alfaias e o terreno, foi adquirido pelo Governo da Bahia através da Lei Provincial nº 358, de 18 de outubro de 1849. Essa Lei também assegurava a manutenção de um capelão para residir e administrar os sacramentos na referida Capela, atendendo também aos moradores da região vizinha.
A Lei Provincial nº 376, de 17 de novembro de 1849, estabeleceu uma nova administração para a Casa Pia das Órfãs do Coração de Jesus. Foi nomeado para provedor, o Barão de Fiaes, Luís Paulo de Araújo Bastos, que foi presidente da Província da Bahia, em 1830-31. Novas administrações seriam reeleitas a cada dois anos. Os bens da instituição foram tombados. Os artigos 3 e 7 dessa Lei dão uma luz ao destino das órfãs.
Art. 3. A
administração nomeada fará um Compromisso
para a mencionada Casa, procurando conformar-se com o
espirito e regimen dado pelo Fundador d'essa Instituição,
e sujeitará o mesmo compromisso a approvação do estylo.
Art. 7. No Compromisso se marcará o destino que devam ter as Recolhidas.
Possivelmente, esse Compromisso estabeleceu, em algum período posterior, a transferência do Colégio das órfãs para as instalações da Igreja de São José de Ribamar, no Barbalho.
O Relatório da Thesouraria Provincial da Bahia, de 1856, faz referência a pagamentos ao capelão da Capella do SS. Coração de Jesus do Resgate.
Em 1869, o relatório de prestação de contas, de 21 de abril, em que o Barão de S. Lourenço passa a administração da Província ao vice-presidente, faz referência ao pagamento de professores da "Capella do Resgate" (1869).
Em 1871 e 1872, relatórios da Thesouraria Provincial fazem referência ao pagamento de juros ao tesoureiro do Colégio das Órfãs do Coração de Jesus pela compra da Capela de Nossa Senhora do Resgate [?], dando a entender que a compra da Capela do SS. Coração de Jesus, determinada pela Lei nº 358, ainda estava pendente.
Deduz-se, pelas referências acima, que a denominação da Capela, fundada pelo padre Francisco Gomes de Souza, foi possivelmente mudando da forma seguinte:
- Capella do SS. Coração de Jesus.
- Capella do SS. Coração de Jesus do Resgate.
- Capella do Resgate.
- Capella de Nossa Senhora do Resgate.
Essa mudança de consagração é estranha e provavelmente trata-se de um mau entendido, pois os templos católicos costumam manter sua consagração de origem, mesmo quando há mudança de irmandade.
Até 1882, os relatórios da Thesouraria Provincial faziam referências ao pagamento de professores no sítio do Resgate.
Acredita-se que a origem do nome do Resgate ao Cabula tem origem em uma outra capela de Nossa Senhora do Resgate, fundada no século 16, por Natal Cascão, que arrendou as terras do Conde da Castanheira (1500?-1563). Hoje, existe a Paróquia de Nossa Senhora do Resgate, fundada em 1983, cuja igreja matriz tem arquitetura contemporânea e é difícil estabelecer suas origens.
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A Capela do Sagrado Coração de Jesus, em Nazaré, inaugurada em 1891, em foto antiga. Embora essa seja uma outra capela, ela herdou a tradição da antiga Capela do Cabula.
Por Jonildo Bacelar