Chafariz de Colombo
Antes do Monumento a Castro Alves, inaugurado em 1923, o antigo Largo do Theatro abrigava um chafariz de mármore de Carrara, instalado em 1855 (talvez no início de 1856), com uma escultura atribuída ao navegador Cristóvão Colombo. Foi instalado no mesmo local de uma antiga fonte, em alvenaria, que existia no local, como registrado, cerca de 1850, pelo engenheiro britânico Samuel Charles Brees.
Esse chafariz foi adquirido na Europa por Francisco A. Pereira Rocha, um dos empresários da Companhia do Queimado, como sendo de Cabral. Entretanto, a escultura (possivelmente italiana), que chegou era de Colombo, diferente do projeto original.
Segundo Manoel Querino (A Bahia de Outrora, 1946, com 1° edição em 1916), o Dr. Rocha dizia que a estátua desse chafariz representava Pedro Álvares Cabral. Outros textos da época citam o mesmo. Querino observou que não deveria ser Cabral, pois ele é sempre representado com barba e com mais idade, então consultou Odorico Odilon, professor de Geografia e História, que lhe disse: "sempre ouvi dizer que a estátua que encimava o chafariz da Praça Castro Alves representava Pedro Álvares Cabral [...], mas um detido exame do monumento deixou-me em dúvida entre o viajante citado e Cristóvão Colombo".
Silio Boccanera Junior (Bahia Histórica, 1921), referindo-se a esse chafariz, cita que pelo projeto aprovado pelo governo da Província, em 1854, conservado no Arquivo Público [na época], a estátua representaria oficialmente Cabral, em trajes da época. O autor, entretanto, observou que "há razões bem profundas para não se admitir isso" pois Cabral era sempre representado com barba e essa escultura parecia ser de Colombo ou de Américo Vespúcio. Boccanera ainda relata com desgosto que os degraus de mármore e o gradil de ferro, em volta do chafariz, foram retirados e a escultura foi girada para o lado de dentro da Praça na administração do prefeito Antonio Pacheco Mendes (1915 a 1917). Boccanera observou que o chafariz iria para a Cidade Baixa devido à inauguração do Monumento a Castro Alves (efetivamente inaugurado em 1923).
A referência a Colombo é bem antiga. Quando esteve na Bahia, em 1860, Maximiliano de Habsburgo citou em seus esboços de viagem: "Em frente ao Teatro, enfeitando a Praça, encontram-se algumas árvores e uma fonte muito graciosa, de um branco brilhante, de mármore de Carrara, com a bonita estátua do grande Colombo".
Não há dúvida que a escultura é de um navegador, pois ele segura um leme. Tudo indica que seja mesmo Colombo, pois assemelha-se a outras representações suas, como a escultura, mais recente, no Palais d'Antoniadis, em Alexandria. Cabral é pouco conhecido fora do Brasil, mas todos conhecem Colombo. Além disso, a escultura do projeto desse chafariz não seria a mesma que foi adquirida (veja ilustração abaixo).
Em 1946, o chafariz encontrava-se na Praça da Inglaterra, no Comércio, ainda com a escultura de Colombo (foto à esquerda), segundo Frederico Edelweiss, em nota da 3ª edição do livro A Bahia de Outrora, de Manoel Querino (1946).
Em 1948, foi instalado na Praça da Inglaterra o monumento a J. J. Seabra, no local onde estava o chafariz.
Em 1956, a base do chafariz de Colombo, em mármore de Carrara, estava no Abrigo D. Pedro II, mas com uma escultura de Lord Cochrane, de autor desconhecido. O almirante inglês Sir Thomas Cochrane, Marquês do Maranhão, teve participação importante na Guerra de Independência do Brasil. Esse chafariz está atualmente abandonado na Praça Lord Cochrane, na avenida Anita Garibaldi, sem qualquer inscrição ou identificação.
A escultura de Colombo foi para o Rio Vermelho e está hoje na Praça Colombo, sobre um diferente pedestal, ornamentado com esculturas de Mathurin Moreau, retiradas de um outro chafariz.
Por Jonildo Bacelar
A escultura de Colombo sobre um diferente pedestal, atualmente na Praça Colombo, uma extensão do Largo da Mariquita, no Rio Vermelho.
O Monumento a Colombo, no Rio Vermelho, decorado com esculturas de Mathurin Moreau, em ferro fundido, retiradas de antigos chafarizes da Cidade do século 19.
O Chafariz secular, em 1998, na praça Lord Cochrane, sem identificação. A estátua de Colombo foi substituída pela do almirante inglês (foto do livro Retratos da Cidade, Prefeitura do Salvador).
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Esta ilustração foi publicada, anos atrás, no Jornal A Tarde, fornecida pelo Centro de Estudos da Arquitetura na Bahia, da UFBA. Note que a base do chafariz é a mesma da foto acima, mas a escultura é totalmente diferente, exceto pelo leme. Fica aqui a especulação se essa ilustração é a mesma das plantas originais referidas por Boccanera, já que o CEAB conhecia a escultura da Praça Colombo.
Acima, o chafariz, por volta de 1920, ainda com a estátua de Colombo, mas sem a proteção de grades e sem os cisnes ornamentais, vistos na imagem do topo. A estátua foi girada para dentro da praça entre 1915 e 1917.
O chafariz de Colombo na Praça da Inglaterra por volta dos anos 1940.
O Largo do Theatro em 1850, antes do Chafariz de Colombo. Note uma outra estrutura no local, que era uma fonte de água.
O Chafariz do Largo do Theatro em um cartão postal enviado em abril de 1902. A Praça recebeu o nome do Poeta em 1881.
À direita, vê-se parte do bondinho seguindo para o Viaduto Bandeira de Melo.
Chafariz de Colombo
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